7 de novembro de 2007

O Telmo (ou o Café Apollo)

Lembro-me da primeira vez em que lá entrei a acompanhar o meu pai.
Lembro-me do meu pai a jogar bilhar nas tardes de domingo e eu nos matrecos sem quase ter altura para ver a bola.
Lembro-me das bebedeiras que impingiam ao Ripinhas.
Lembro-me do dono. O Telmo, alto e de cabelos brancos.
Lembro-me da sua morte.
Lembro-me da chegada do Fernando.
Lembro-me das intermináveis noites em que os mais velhos jogavam fodinha ou uma lerpazita.
Lembro-me das garrafas de whisky a 5 contos só para manter a porta aberta.
Lembro-me da monumental despedida e da chegada do Zé.
Lembro-me das rodadas de 50 finos.
Lembro-me das conversas sobre tudo e sobre nada.
Lembro-me de esperar meia hora por um fino.
Lembro-me dos panados mistos e das bifanas sempre em falta.
Lembro-me do nascimento dos míudos.
Lembro-me das obras.

Hoje foi a última noite… o café da minha rua vai fechar. Ficam as memórias.

14 comentários:

Unknown disse...

E agora Granel????
O que vai ser do mundo???

Save yourselves! It's the end of the world!

GRaNel disse...

... as you know it!!!

Mofina disse...

Saudades? Mau sinal...

Maria Viene disse...

Gostei muito deste post Granel, apesar de falar de uma coisa triste: o encerramento de um café do Porto, áliás, tema que me é muito caro!
Assisti ao últimos dias do velho Lima 5, agora convertido num restaurante...

Os cafés apesar de serem guardiões da memória colectiva são, também, guardiões da memória pessoal...

como o teu belo post deixa claro.

GRaNel disse...

Cara Maria Viene. Aqui falo de um café de aldeia. Da minha aldeia. Mesmo à porta de minha casa em Aguada de Baixo. Infelizmente, o paralelo com os cafés do Porto pode ser traçado sem grandes alterações. É o prgresso das nossas sociedades.

vitor disse...

é com tristeza que vejo esta mais do que anunciada noticia. De facto que sera uma "perda" para nos, pois o cafe servia de ponto de encontro para a nossa malta e não so, qualque coisa que se marcava era no cafe... Bem espero que seja um ate ja e não um adeus. Ate um dia cafe Apolo.

Anónimo disse...

Escreve o senhor George Steiner que a Europa são os cafés. Ele fala dos grandes, dos que conhece, mas creio que são todos, aqueles onde se pode conversar e fazer o futuro. Porque não aproveitas o espaço?
;-)

Unknown disse...

Sim, já que não faz nada. Ao menos arranjava um negócio a que está habituado - tasqueiro! Metia esses posters de mecânico de que tanto gosta, com essas pêgas. Um bom conselho aí do esquerdonga. Já começa a pensar como um liberal!

smartdrink disse...

Provavelmente um dos mehores posts de sempre deste blog.
Granel poderias ver nesse café uma boa hipotese de investimento... e até fazia sociedade contigo. Com bons petiscos e malta porreira...

Anónimo disse...

Caro Jorge C.,
Começa???

GRaNel disse...

O café sempre foi um negócio de familia. Teve três donos sendo o primeiro e seu criador, o Sr. Telmo. Aquando da sua morte, o café ficou para uma das filhas que depois o passou a outra. No caso foram sempre os maridos, o Fernando e o Zé, que tomaram conta. Na altura, era normal ter o café no rés-do-chão e casa por cima. Assim se passa no Café Apollo. Ao mesmo tempo que deciciu emigrar, o Zé decidiu não arrendar o café. É uma decisão sensata. É complicado viver por cima de um café. Muito mais complicado se ele não fôr nosso.

Confesso que tentámos arranjar uma solução para que a nossa tasca, ultimamente transformada em Casino não fechasse mas não foi possivel. Mas adianto em primeira mão que tenho um pré-acordo para special fridays.

Dalaila disse...

Não gosto nada, quando os cafés fecham, fecham-se memórias e tantas

Melancholic Soul disse...

Bem, esta notícia apanhou-me completamente desprevenido...
Também vou ter saudades do "Telmo", apesar de o frequentar "on a whole different level..."

Todos esperamos que seja apenas temporário...

Anónimo disse...

O Telmo..puxa , o Telmo encerra tantas historias e tantas estorias!!!O Telmo nao ficava em frente a minha rua. Na verdade eu se queria ir ao telmo tinha que percorrer uns 300km. E fazia-o(aproveitava e ficava uns dias). E de algum modo partilhei historias e estorias. La comecavam e acabavam as noites. E se continuavam n'outro sitio, la vinha o Ze connosco, tantas vezes..la sentia-me como se pertencesse aquela pequenina aldeia onde se diz que nada acontece! De la trago memorias e sorrisos. La vivi os anos dourados da minha adolescencia. Com o Telmo ali tao perto..