Volta e meia a avó tem de ir aos HUC. Nada que lhe agrade. Nós também não batemos palmas. Mas é uma oportunidade de passarmos tempo com ela. Hoje fui eu que a levei. Ia fazer uma tac. Preparei-me para uma manhã perdida pelos corredores do hospital, em pé encostado a uma parede, à espera que a “nossa” vez chegasse. Felizmente, quis a sorte que não tivéssemos de esperar muito. Três quartos de hora de atraso é mesmo razão para festejo.
O exame obrigava-a a estar em jejum. Procurámos uma pastelaria perto para repor as energias. Nada de mais. Apenas o suficiente para que aguentasse a viagem. O destino era o Tia Alice em Fátima. Há muito que ansiava pela (re)visita. Mostrar a Igreja nova de Fátima à avó era a desculpa perfeita para pagar a minha promessa. Pago sempre as promessas no Tia Alice (o Porto deve-me uma Liga dos Campeões e uma Taça UEFA). A visita de hoje paga já o campeonato em avanço.
Foi bom chegar e ver que estava tudo como dantes. Passadas duas horas tinha-o comprovado. A comida continua divinal. Morcela de arroz para entrada, arroz de tamboril e robalo como prato principal e um pudim de café de sobremesa. É bom, muito bom, mas fica uns furos abaixo do gelado da casa. 
Era tempo de cumprir a minha promessa. Mostrar o centro de estágios. Estava à espera de uma tartaruga gigante plantada à frente do santuário. Nada disso. A Igreja é linda, enterrada o suficiente para não afrontar a basílica. Junta em si, o betão, a pedra, o cobre e o vidro. É de uma imponência extrema mas quase despretensiosa (se é que isto é possível). Gostei, gostei especialmente de dar o braço a torcer e reconhecer que a obra é de muito bom gosto. Gostei também de ver o sorriso estampado na cara da minha avó. Por força da doença e da idade tinha-se mentalizado que não iria ver o colosso. Lembro-me que tremia quando começou a ver o topo da igreja. Nem as portas fechadas da Igreja lhe retiraram a alegria. Rezar cá fora ou lá dentro é igual, disse. Assenti. Não iria suportar o golpe de me ouvir a falar mal da Igreja. Não lho disse, mas digo-o agora. É uma falta de respeito pelos crentes. Vi que, mesmo à semana, são milhares as pessoas que se deslocam a Fátima. Não sei o quê, talvez um dia o saiba, mas há algo que move aquelas pessoas. Pessoas que com a sua fé e com o seu dinheiro, permitiram tal construção. E que permitem a vida faustosa dos bispos e restante cambada. É vergonhoso que queiram para seu proveito e fonte de lucro, algo que é de todos. “É tudo uma cambada de gatunos, uma cambada de chupitaaas”.
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